Foi dificil levantar da cama naquele frio. Continuava chovendo e a temperatura baixa era agravada pela sensação térmica e vento forte. Naquele dia, viajaria direto para Watson Lake e só contaria com bombas de gazolina dos campings e dos motéis localizados nesse longo trecho. Fiz uma refeição bem reforçada, arrumei toda a bagagem e caí de volta na 97. Tão logo saí de Fort Nelson, encontrei o primeiro desvio do dia. Após ficar parado uns vinte minutos, fui convidado a acompanhar a pick up guia da construtora que te leva vagarosamente até o final do desvio e de lá, volta guiando novo grupo que a aguarda na outra extremidade do trecho em obras. Liberado, acelerei e fui tocando na minha velocidade de cruzeiro habitual apesar do tempo enfarruscado daquele dia. Na junção com a 77, parei para garantir um reabastecimento sem ter sequer entrado no tanque reserva. Por aquelas bandas vc não pode facilitar com as distâncias e a pouca quantidade de bombas disponíveis. Aproveitei tambem para saborear um café bem quente antes de partir e assim aliviar um pouco do frio. Nas mãos, usava uma luva térmica e por cima, uma outra de borracha forrada. Nos pés, uma meia térmica e um meião de couro e pêlo de Lhama até o joelho e por fim, bota de neoprene vinda do Alasca. Por baixo de minha roupa, usava uma outra térmica e por cima, um colete air bag próprio para moto, presenteado pelo meu amigo Sergio, de Brasilia. Dessa forma, conseguia viajar aquecido, com segurança e certo conforto. Fui tocando num ritmo forte até onde o mau tempo permitia, cruzando aquela rodovia construída no meio da mata. No meio da tarde, divisei um vulto escuro na estrada e ao me aproximar ví que era um urso marrom atravessando tranquilamente em direção ao acostamento onde parou e começou a pastar. Não resistí e com o motor da moto ligado, mantendo uma distância segura, tirei a minha primeira fotografia de urso, ao vivo. Essa mesma emoção, com a participação de outros animais selvagens da fauna local, ia se repetir várias vezes durante minha jornada solitária. No final da tarde, cheguei finalmente em Watson Lake e fui diretamente para o hotel Air Force Lodge, antigo acampamento de oficiais da aeronautica que participaram da guerra de 1942, ano em que nascí. Um alemão comprou o prédio e o transformou em hotel, mas manteve as mesmas caracteristicas. O curioso é que vc tinha que tirar os sapatos na entrada e andar descalço no seu interior. Muito bem instalado, saí para comer ao lado, num restaurante simples mas com uma comida deliciosa. Lá conhecí um novo companheiro canadense que vinha do Alasca e deu-me uma série de dicas sobre o trecho que ia enfrentar dali para a frente. Em seguida voltei para o hotel, respondí meus emails e fui direto para a cama.
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