segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Manchala a Quevedo

Antes de começar a relatar minha viagem de Machala a Quevedo, no Equador, gostaria de prestar uma homenagem a uma motociclista que sempre foi um exemplo de integridade, lealdade e fraternidade em nosso meio. Foi tambem uma das mais importantes incentivadoras da minha viagem solitária para o Alasca, mesmo quando a maioria das pessoas de pouca fé não acreditavam em meu feito. Quero agradecer publicamente a singela homenagem que ela me prestou em Paraiba do Sul, dias antes de minha saída para o Alasca. Mais do que isso,  retribuo essa homenagem, dedicando-lhe não só o recorde que estabelecí na categoria veterano, indo do Rio ao Alasca, em tres meses e vinte e seis dias, rodando um total de 48.000 Km solitariamente, mas tambem o título de primeiro motociclista sulamericano, na classe veterano, a participar do Evento de Sturgis, em Dakota do Sul, o maior do mundo, pilotando sua própria moto desde sua cidade de origem, via Alasca, com 24.000 milhas rodadas, enquanto o motociclista que mais havia rodado para chegar em Sturgis, marcava 5.500 milhas no velocímetro de sua moto. Motociclistas dos mais diversos paises  e estados americanos, filmavam e fotografavam o velocímetro de minha moto como a comprovar tal desafio. Portanto, minha querida  Cristina, esteja onde estiver, saiba que esse triunfo é seu e que continuarei eternamente grato,  por ter acreditado nesta nossa vitoriosa jornada, da qual vc participou, não como garupa, mas muito bem instalada no meu coração. Que Deus a tenha, minha querida irmã de fé....... Quando partí de Machala e tomei a panamericana, sentí que viajaria todo o dia num clima absolutamente tropical. O Equador é um país acolhedor e vive basicamente da exportação da banana e através do turismo, explorando a beleza  das ilhas Galápagos, um verdadeiro santuário da natureza. A rodovia panamericana no país está numa situação bem razoável e o povo de uma maneira geral é muito hospitaleiro e prestativo. A cada parada para reabastecimento, aproveitava para matar a saudade da água de côco e saborear aquela carne macia típica da fruta verde. Passei ao largo de Cuenca e Guayaquil, duas importantes cidades equatorianas, mas optei em tocar direto para Quevedo, onde tenho alguns amigos e onde pretendia dar uma geral na moto, tipo trocar óleo e filtros, ajustar e lubrificar corrente, além de providenciar um reaperto geral. Cheguei no meu destino um pouco antes do anoitecer e fui direto para o hotel Olimpico, do meu amigo Nicolás Crespo, onde já deixei agendada para o dia seguinte a revisão da moto e uma entrevista com uma tv local, para falar um pouco da nossa jornada. Como estava muito quente, aproveitei para curtir um pouco da piscina, antes do jantar. Após minha alimentação dupla diária, visitei o cassino do hotel por alguns minutos, já que não curto jogo, e logo depois fui para meu quarto descansar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Mancora - Peru a Machala no Equador

Após um merecido repouso e um café colonial maravilhoso, voltei para a panamericana e como sempre, parei no primeiro posto para abastecer a moto e garantir algumas barras de cereais para consumir durante o dia. Pretendia manter um rítmo forte para alcançar Tumbes, última cidade peruana antes da fronteira com o Equador, ainda claro. Não gosto de atravessar Aduanas durante a noite. Tão logo acabei de lubrificar a corrente da moto, voltei para a estrada e toquei em direção a Tumbes. Foi um dia como tantos outros, enfrentando muito vento, tempestades de areia e apreciando de longe a formação de tornados nos sopés das montanhas. O que mais gosto de fazer quando estou no deserto, literalmente no meio do nada, é conversar comigo mesmo, é usufruir aquele momento único de total integração com a poderosa natureza. E assim, atravessei Talara com seu tráfego frenético, onde aproveitei para reabastecer a moto e meu estoque de água mineral. E para falar em água, a salinidade nesta região é tão grande, que quando tomamos uma ducha, sentimos a falta da espuma farta do sabonete na própria pele. Continuei tocando em direção a Tumbes, onde cheguei no meio da tarde e debaixo de um forte calor, apesar do vento. Na fronteira, após os trâmites demorados e cansativos por força de uma interminável burocracia, fiquei liberado e atravessei para o território equatoriano, onde iniciamos nova maratona de formalidades aduaneiras. Após dezenas de carimbos, xerox, taxas oficiais para mim e para a moto, pude finalmente entrar no Equador e tocar em direção a Machala, onde pararia para dormir. O que impressiona no Equador, é a quantidade de plantios de banana. Vc viaja horas cercado de bananeiras, cultivadas nos dois lados da panamericana. O grande peso da economia equatoriana, aliás, está exatamente na exportação de bananas para o mundo inteiro. No Equador, voltei a curtir tambem uma deliciosa água de coco gelada. No final da tarde, já escurecendo, cheguei na cidade de Machala e parei para dormir num hotel bem no centro da cidade. Estava tão cansado que mal conseguí descer para comer alguma coisa. Após um cafezinho, subí para descansar e poder enfrentar a maratona do dia seguinte.

Chiclayo a Piura

A viagem de Chiclayo a Piura é para motociclista estradeiro que adora pilotar permanentemente sob grau de dificuldade. A panamericana nesse trecho é muito bonita, cheia de curvas e contornos sinuosos que acompanham o mar todo o tempo. A brisa que vem do oceano, se é que pudemos chamar ventos de 80 km de brisa, faz com que a sensação térmica caia muito e o frio muitas vezes se torne bem desagradável. Algumas curvas nos altos dos penhascos parecem cotovelos e quando encontramos alguma carreta nessas ocasiões, cortamos por dentro, em plena curva, pois além da sua abertura para entrar na curva ser até exagerada, a carreta que vem em sentido oposto sempre para e aguarda toda essa manobra se completar. Os ângulos das curvas são muito fechados. O vento neste dia, mexia com minha paciência e abusava da resistência dos meus braços ao tentar manter a moto na estrada. Nos postos que parei para abastecimento, procurei demorar mais que o normal, exatamente para me preparar para o próximo trecho. O que impressiona nesta época de inverno, é a grande quantidade de balneários com suas casas de tábua e seus restaurantes e bares, todos fechados, como se tivessem sido abandonados , pois vc não encontra uma viva alma para pedir uma informação. Suas dúvidas são tiradas ao chegar nas estações de serviço, através dos frentistas, que nunca te informam a quilometragem de uma cidade para outra. No Peru, de um modo geral, as distâncias são calculadas e informadas através das horas de viagem. No meio da tarde, já meio extenuado, me aproximei de Mancora, um movimentadíssimo balneário de Piura e optei em dormir num hotel à beira mar. Ao abandonar  a rodovia principal e entrar numa das muitas ruas estreitas e de terra que te levam para a orla através de dezenas de quebra molas, vc cruza com centenas de turistas americanos e europeus, com roupas leves e coloridas, caminhando por aquele emaranhado de vielas cheias de lojas de artezanato ou passeando nos tradicionais moto taxis com cabinas para duas pessoas. Fui para um hotel muito bonito, chamado casa mediterrânea, com garagem coberta, restaurante, piscina e com um preço excelente por estarmos em baixa temporada. À tarde, ainda fui caminhar na praia e topei com um leão marinho que se arrastava preguiçosamente pela areia. Após o susto, registrei aquela figura gorducha e nada simpática, numa foto batida por um nativo que passava por mim naquele exato momento. Após desistir de mergulhar no mar ou na piscina, por razões óbvias, tomei uma chuveirada bem quente e fui curtir uma mariscada no próprio restaurante do hotel. Após o delicioso jantar, ainda batí um bom papo com a Jéssica, gerente do hotel e depois fui curtir o conforto da minha aconchegante cabana. No dia seguinte, pretendia chegar a Tumbes e atravessar a fronteira do Equador.

Trujillo a Chiclayo

Aproveitei o silêncio e o aconchego do hotel Los Conquistadores para dormir um pouco mais. Pretendia antes de viajar para Chiclayo, visitar a cidade murada de Chan Chan, localizada no meio do deserto, era uma interessante atração turística local e uma verdadeira fortaleza. No seu interior, o comércio artezanal é muito movimentado e a quantidade de turistas é muito grande. Todos procuram alguma coisa exótica e que exprima a cultura daquele povo sofrido. No meu caso, por exemplo, trouxe comigo o famoso Equeco, o boneco da sorte peruano, que segundo os indígenas, traz sorte e fortuna para aqueles que os acolhem. Esses pequenos bonecos levam um cigarro na boca, uma nota de um dólar fantasia enrolado no corpo e várias outras pequenas coisas que simbolizam prosperidade. Por incrivel que pareça, é conhecido em todo o Peru, tanto na capital como no interior . Terminada minha proveitosa visita, procurei um posto de gazolina e além de abastecer a moto, aproveitei para trocar o óleo do motor e o respectivo filtro. Dalí mesmo, voltei para a estrada e para o misterioso deserto de Sechura com suas dunas multicoloridas e suas falésias abertas pelo vento forte e constante. De vez em quando, o deserto acompanha o curso do Pacifico e penetra em suas águas geladas e transparentes. Naquela região, a areia da praia é a própria do deserto com suas incômodas pedrinhas que sentimos ao sentar na beira do mar. Durante todo esse trajeto, raramente encontramos estações de serviço e os povoados e pequenos balneários diminuem de intensidade. A viagem se torna cada vez mais solitária e variando entre períodos de subidas e curvas e outros de puras e extensas retas. Como só paro para abastecer minha moto e nunca almoço viajando, minha jornada diária rende bastante. Por volta das cinco horas, estava estacionando na porta do hotel Santa Rosa, em Chiclayo, um pequeno prédio de quatro andares , que oferecia garagem fechada e coberta para a moto e respectiva bagagem, já que só retirava um dos bauletos laterais. Além disso, estava localizado no centro da cidade o que facilitava um passeio noturno pelo comércio para fazer a digestão e conhecer um pouco do lugar. Por volta das dez horas, voltei para o hotel e fui direto para a cama. O dia havia sido muito produtivo mas igualmente fatigante e eu precisava recuperar as energias.

sábado, 29 de outubro de 2011

lima a Trujillo

Partí de Lima bem cedo, aproveitando a panamericana sem aquele característico fluxo intenso de caminhões e ônibus. Como não serviam café no hotel, aproveitei para parar na primeira estação de serviço e colocar combustível na moto e renovar meu estoque de água, além de fazer uma reforçada refeição à base de ovos, presuntos, torradas e um café bem quente para aliviar o frio. ´Toquei então em direção a Trujillo , via Huaraz, o que seria um dia de viagem num rítmo bem acelerado. Com o correr do tempo veio minha grande decepção. Naquele trecho, Lima a Huaraz, existe uma policia camineira que se transformou numa verdadeira quadrilha organizada, para chantagear turistas através de multas por infrações de trânsito inventadas. Eles trabalham em duplas e se posicionam em trechos desertos e numa distância de uns quarenta quilômetros de um grupo para outro. Te abordam descaradamente e te pedem propina sem a menor cerimônia. Conseguí contornar o problema graças a minha roupa de militar que costumo usar em minhas viagens e um rastreador via satélite que eu alegava estar sendo monitorado por televisões brasileiras que registravam minha rota até o Alasca. Um pouco mais para a frente, essa gente desaparece de circulação e vc volta a ter uma viagem absolutamente tranquila. Na direção de Trujillo vc cruza com vários balneários e pequenas aldeias de pescadores localizadas às margens do pacífico. O visual dos penhascos que se debruçam sobre o mar é um espetáculo à parte. Por outro lado, a altura, e o vento que sopra violentamente do oceano, formam constantes tempestades de areia muito perigosas principalmente para os pilotos de motos. Outro fator muito importante durante sua jornada, principalmente se solitária como a minha, é se inteirar dos possiveis tremores de terra por onde vc pretende passar no dia seguinte. Eles são muito frequentes no Peru e alguns bem violentos. No final da tarde, cheguei finalmente em Trujillo e após as formalidades de chegada, ingerí uma substâncial refeição no próprio hotel e me rendí à fadiga da viagem e das centenas de quilômetros rodados sob condições , às vezes, bem adversas.

De Chala a Lima

O amanhecer em Chala é muito bonito com uma verdadeira debandada de pequenos barcos de pesca se dirigindo para o oceano. Após minha rotineira caminhada pela madrugada, tomei um reforçado café, ajustei a bagagem e partí em direção a Lima, a bela capital peruana. A panamericana , nesse trecho , tem alguns pontos de subida e descida bem perigosos, verdadeiros penhascos, com um visual de rara beleza. Em outros pontos, vc viaja horas em pleno deserto, visualizando apenas algumas poucas casas de palhas que oferecem alguns serviços de borracharia ou paradeiros com comida para caminhoneiros. A cada duzentos quilômetros, surgem pequenos povoados encravados no sopé de imensas dunas e uma pequena estação de serviços com providencial lanchonete, onde vc pode se abastecer de água mineral ou até saborear um sorvete para aliviar o calor escaldante. O vento nesta região é muito forte e um descuido qualquer pode tirá-lo da estrada. Ao cruzar com carretas ou ônibus de turismo naquelas retas intermináveis, o vento e o vácuo deixados por esses veículos, nos dão a impressão de que a moto vai levitar violentamente. Ao nos aproximar de Lima, comçam a surgir balneários mais luxuosos com belas casas situadas nas encostas olhando para a grandiosidade do pacífico. As construções predominantes são no estilo colonial espanhol com suas fachadas em arco e alpendres desenhados em ferro escuro. Um pouco antes de alcançarmos a capital peruana, a panamericana passa a ter uma pista dupla e ampla, bem no estilo da Castelo Branco. E é bom lembrar que em toda essa viagem, nas estradas pedagiadas, as motos tem sua pista lateral de passagem livre, com excessão do México, que divide suas estradas em pedagiadas e vias libres, deixando uma opção para o usuário. A chegada em Lima é muito interessante porque a panamericana corta toda a cidade, tendo a seu lado, paralelamente, uma estrada de fuga para quem desejar entrar na cidade. Como não gosto de andar de moto no trânsito das grandes cidades, principalmente no tráfego intenso e confuso de Lima, conseguí um hotel com garagem e internete nas margens da rodovia de acesso e alí fiquei por dois dias. Contava com cabinas telefônicas bem próximo do hotel e todos os dias visitava o centro da capital utilizando rádio-táxi. A capital peruana é muito bonita, bem traçada e muito bem servida de hoteis, bares e restaurantes internacionais. O comércio é de muito boa qualidade tanto nas vias públicas como nos shopping centers e o povo de um modo geral, muito hospitaleiro. O motociclismo esportivo de velocidade é muito forte em Lima e o principal grupo local é o Peru moto clube. Tive dias muito proveitosos em Lima e curtí bastante essa bela e acolhedora cidade, além de aproveitar a pausa, para rearrumar minha bagagem e trocar óleo e filtro da moto.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nazca a Chala

Este trecho apesar de viajarmos pelo litoral, sentimos os efeitos do deserto de Sechura, com sua aridez, seu calor excessivo e ventos violentos. Na sua grande maioria, as casas dos nativos são construídas com esteiras que costumamos ver pelo nordeste brasileiro, usadas como cama. São construídas armações de madeira e depois as esteiras são pregadas uma a uma, fechando o corpo da casa. O mesmo é feito na cobertura. Nas regiões onde o vento é muito violento, eles colocam atrás das casas uma parede reforçada e alta, tambem recoberta da mesma esteira, em quadrados maiores, para proteger a casa e evitar que elas sejam derrubadas. É uma região de extrema pobreza e a maioria desse povo trabalha nas mineradoras estrangeiras que atuam em várias regiões do deserto. Dependendo do traçado da Panamericana, ora vc viaja na beira do mar recebendo rajadas extras de vento que vêem do oceano, ora vc viaja em pleno deserto, no meio do nada. Passamos por Ica, com seu trânsito caótico a exemplo de todo o Peru e aproveitamos para completar o tanque da moto. Nas zonas desérticas, por experiência própria, jamais deixo meu combustível ficar abaixo da metade. É muito comum nessas regiões, vc calcular distâncias de localização da próxima estação de serviço e quando chega no local, o posto está sem gazolina e vc tem que esperar por dois ou tres dias por um caminhão tanque . Após renovar o estoque de água mineral, o líquido mais precioso daquela região, tocamos em direção a Paracas, cidade localizada nas margens do pacifico e conhecida pelo artezanato indigena tendo como matéria prima as pedras do próprio deserto, que eles transformam em elementos da simbologia local. Essas peças são vendidas em lojinhas ou feirinhas de artezanato muito frequentada por turistas e estudiosos de todas as partes do mundo, que alí chegam por via terrestre, usando carros, ônibus, motos, bicicletas, ou mesmo na condição de andarilhos. Dalí. seguí para Chala, cidade portuária , uma colônia de pescadores e balneário, que costumo parar para dormir no hotel Chala, cujo dono possui uma ótima estação de serviço ao lado, que aceita receber as despesas do hotel pagas em cartão de crédito. Além de um estacionamento fechado, vc para a moto na porta da sua habitação,o que facilita o transporte da bagagem para o quarto. O restaurante serve um bom pescado e o preço da estadia bem razoável. Após comer uma saborosa mariscada e caminhar um pouco pela praia, me recolhí para um merecido repouso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Moquegua a Nazca

Após um simpático café com a familia brasileira de Itaperuna, seguimos praticamente juntos para a panamericana e tomamos a direção para Lima. Algumas horas depois, viajando no deserto e no meio do nada, chegamos a um viaduto que divide a estrada entre quem vai em direção ao litoral e quem sobe em direção à Arequipa, Puno e Cuzco. Alí, nossos amigos tomaram o rumo das cordilheiras e eu seguí em direção ao litoral para conhecer as famosas linhas de Nazca, hieroglifos gravados nas montanhas da região, muito visitadas por turistas, pesquizadores, professores e estudantes. Alguns sobem essas montanhas caminhando com guias fornecidos por empresas turisticas credenciadas, outros com menos tempo disponível, visitam as misteriosas inscrições através de voos fretados por companhias especializadas. É muito comun viajarmos, ouvindo o ruído do motor de pequenos aviões sobrevoando aqueles morros a uma altura relativa baixa para que os visitantes possam registrar tais figuras que se destacam pelo seu exotismo e beleza. Neste dia, apesar da temperatura elevadíssima, o vento do  litoral nos castigava sem dó nem piedade, numa velocidade de uns 70 Km por hora. E esses ventos sempre nos alcançam na direção do mar para as cordilheiras, nos forçando literalmente para fora da rodovia. Nessa região, vc cruza com vários povoados e balneários isolados, pobres e com pequenas casas de madeira que vc não consegue entender como elas conseguem resistir àquela constante ventania. As estações de serviço são raras e a maioria delas não aceita cartões de crédito e muito menos cheques. O combustível tem que ser pago em efetivo, soles, moeda oficial peruana. O mar é gelado e a areia da praia é a própria do deserto que desce da cordilheira e penetra na água. Nas encostas, muito bonitas por sinal, as pedras escuras contrastam com o mar transparente e normalmente revolto. As estradas pela orla, cheias de despenhadeiros e curvas traiçoeiras te proporcionam um visual incrível. Quanto a Nazca, com seu trânsito confuso como a maioria das cidades do interior peruano, te oferece um ótima estrutura turítica, com hoteis e pousadas para todos os gostos e preços. A maioria dos hoteis têm restaurantes e o que predomina é o pescado. A maioria dos hoteis e empresas de turismo que oferecem excursões pelas montanhas, aceitam cartão de crédito internacional. Após um dia movimentado e com forte dose de adrenalina, saboriei um pescado delicioso, me rendí a um merecido repouso.

Pozo Almonte no Chile a Moquegua no Peru

Fazia uma manhã fria em Pozo Almonte , apesar do sol que já despontava no horizonte. Tomei um café muito fraco e fui abastecer a moto. Nesta cidade, existe uma série de atrações turisticas para crianças. Antes de partir, usei uma cabina telefônica e falei para casa sobre o roteiro do dia. Iria direto para Arica e até o inicio da tarde, pretendia atravessar a fronteira do Peru. Esse trecho é longo, muito quente e o sol intenso nos castiga o tempo todo. No inicio da tarde cheguei em Arica, cidade litorânea, rica e muito bem traçada. Logo na entrada, parei numa estação de serviço e aproveitei para abastecer a moto e me refrescar com novo estoque de água mineral bem geladinha. Quando cruzo zonas desérticas, não abro mão de um bom estoque de água, pois a hidratação nestas regiões é absolutamente vital. Toquei então para a fronteira peruana, bem próxima dalí. As aduanas ficam bem próximas, o que facilita a tramitação, apesar do grande movimento de taxi e vans que caregam chilenos e peruanos de um lado para outro, pois Tacna, importante cidade peruana, tambem fica muito próxima da fronteira. Passaporte carimbado e moto autorizada, rodei em direção a Tacna, onde o tráfego de motos taxis cabinadas, torna-se uma verdadeira atração e perigo para os turistas estrangeiros. O mais incrível porém, é o barulho ensurdecedor das buzinas que eles usam todo o tempo, naquele tráfego caótico. Atravessada a cidade de Tacna, peguei com certo alivio a rodovia panamericana que me levaria em direção a Monquegua, cidade situada em meio a vales verdejantes e cercada pelas imponentes cordilheiras. Esse trecho da viagem é muito cheio de curvas e vc sobe e desce o tempo todo. Na entrada da cidade, vc se depara com uma verdadeira encruzilhada, com saída para Lima, Bolivia, Puno , Cuzco, entre outras direções menos importantes. É uma cidade moderna, com uma linda avenida de contorno que te poupa  um pouco daquele tráfego barulhento e caótico típico das cidades peruanas. Em Moquegua, sempre me hospedo no hotel Colonial, localizado ao lado do ginásio de esportes da cidade. Além do preço muito bom, ainda dispõe de um varandão coberto para as motos. O pessoal é muito atencioso e tem um ótimo café da manhã. Desta vez, encontrei por lá uma familia de Itaperuna, RJ, proprietários de um colégio e que estavam de passagem  para Cuzco. À noite, após um jantar num restaurante oriental muito bom, localizado no centro da cidade, fui dormir o sono dos justos.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Calama a Pozo Almonte

Após madrugar na Hosteria de Calama, descí a bagagem para a garagem e melhorei as amarrações com as teias que envolviam o baú e os bauletos, onde entrelaçava os apetrechos tipo óleo para corrente, liquido anti embaçamento, água para o deserto, cantil, entre outros. Terminada a arrumação, subí para o restaurante e tomei um café reforçado, pois não costumo parar para almoçar durante o dia. Pago o hotel e liberada minha saída, fui para a estrada esperar os motociclistas chilenos, que chegaram pontualmente no local do encontro. Tocamos até o cruzamento da Panamericana e após encontrarmos dois casais que vieram de Antofagasta, seguimos em direção ao pacífico, enfrentando curvas e atravessando desfiladeiros gelados mas com um visual deslumbrante. O vento nas cordilheiras é sempre muito violento e naquele dia ele nos castigava a cada curva. Em Matopilla, paramos o comboio numa estação de serviços e aproveitamos para nos aquecer com um café cortado à moda Andina. Motos abastecidas, tocamos em direção à Iquique, margeando o gelado pacifico, tendo as cordilheiras à nossa direita. Após umas duas horas de viagem, tivemos que parar num posto aduaneiro de fiscalização dos veículos e respectivos documentos. Aliás, no Chile, a policia é muito rigorosa em todos os aspectos e muito séria. Não desobedeçam nenhuma regra de trânsito porque as multas são emitidas no ato e você só sai do País se pagá-las. Cumpridos os trâmites, seguimos nossa viagem até a bela cidade de Iquique, literalmente imprensada entre o mar e as cordilheiras. Fomos direto para o local do evento, onde fui muito bem recebido. Apesar da festiva recepção, despedí-me dos irmãos chilenos e voltei a subir em direção à panamericana para seguir minha jornada, já que o Encontro cobrava ingresso dos motociclistas e eu me recuso a participar de eventos pagos sob quaisquer argumentos, seja no Brasil ou no exterior. Faltando uns quarenta Km para Pozo Almonte, encontrei um irmão chileno com pane seca. Estava muito nervoso e sem água para beber. Após saciar sua sêde, não pude transferir gasolina para ele por falta de uma borracha. A solução foi seguir até Pozo e comprar um galão de cinco lts, enche-lo e levá-lo para nosso amigo. Sanado o problema, ele continuou em direção ao Evento e eu seguí pela panamericana até Pozo Almonte, onde conseguí um hotel para dormir. Era muito simples, mas conseguí um quarto em um pátio, onde pude colocar a moto sob uma varanda, em frente à janela da minha habitação. Após o jantar, levei meu lap top para a recepção, único lugar com rede disponível e alí, mantive  contato com amigos e familiares sobre minha localização, já que o rastreador colocado na moto não funcionava desde a fronteira com a Argentina. Cansado e muito bem alimentado, já que à noite eu sempre procurava almoçar e jantar ao mesmo tempo, planejei minha próxima rota e apaguei.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pumamarca a Calama

Tão logo despertei naquela madrugada fria própria da região desértica Argentina, ajustei o bauleto lateral da moto e fui para o restaurante tomar café, servido por uma india Boliviana muito gentil. Seria minha sétima travessia desse deserto mais árido do mundo e que ainda assusta muita gente que resolve enfrentá-lo em sua sempre arriscada aventura . Apesar de muito bem agasalhado, vestindo roupas térmicas enviadas do Alasca pelo meu filho Marcio, que vive da pesca naquele estado americano, sentia ligeiros tremores de frio causado pelo vento de inverno que provoca sempre uma desagradável sensação térmica além de fortes dores nos braços ao pilotar a moto em condições tão adversas. Após as despedidas de praxe, toquei em direção a Susques, sempre subindo em curvas fechadas e sem nenhum acostamento até alcançar o ponto mais alto daquele trecho sempre em elevação, onde existe um comércio informal de pedras artezanais e um marco anunciando uma estrada de ripio para Humauaca, numa altitude 4.170 mts. Dalí para a frente, vc começa a sentir uma penosa falta de ar a cada esforço extra e as motos carburadas não conseguem ultrapassar os trinta Km de velocidade. Desse momento em diante, vc só consegue avistar a aridez do deserto, sua total falta de vegetação e seus grandes salares que de longe se confundem com grandes áreas nevadas. Porém ao parar para as fotografias dos bandos de Lhamas selvagens, únicos seres vivos circulando naquelas paragens, é que vc prova o sal, idêntico ao que usamos em nossos churrascos. Quando cheguei em Susques, cidade encravada nas cordilheiras  e com as casas em adobe, tratei de colocar gazolina na única bomba existente na cidade e em seguida seguí para Paso de Jama, aduana Argentina esquecida no meio do nada, tendo em sua volta, uma grande estação de serviços da YPF, construída recentemente. Dalí, após confraternizar com alguns motociclistas europeus que visitavam o deserto pela primeira vez, toquei já em território Chileno em direção a San Pedro do Atacama, um trecho de 150 Km que vc viaja sem visto de entrada do Chile, numa situação totalmente irregular. Ao chegar na cidade, por sinal um verdadeiro caos no trânsito, com uma única bomba de gazolina escondida num labirinto de vielas de terra e rípio e com os hoteis mais caros da região, procurei carimbar meu passaporte, regularizar os papéis da moto e partir em direção a Calama, um antigo Oasis, que se transformou numa próspera, turística e arborizada cidade, impulsionada economicamente pelas grandes mineradoras estrangeiras. Esse trecho de 100 Km, aproximadamente, vc viaja num asfalto impecável e cercado de grandes acampamentos das mineradoras que atuam na área. Ao chegar em Calama, como ainda era cedo, aproveitei para trocar o óleo da minha moto que já estava no limite. Encerrado o serviço, seguí em direção à Hosteria Calama, onde sempre me hospedo quando passo por esta cidade. À noite, fui convidado par viajar com um grupo de motociclistas chilenos que pretendiam participar de um evento em Iquique, uma belissima cidade situada às margens do pacífico. Eles viajariam via Tocopilla, uma antiga aldeia de pescadores, cujo acesso de Calama, é feito através de uma estrada cheia de desfiladeiros que desce das Cordilheiras até o mar, num visual deslumbrante. Tudo combinado, fui jantar no próprio hotel e logo em seguida fui dormir o sono dos justos.

domingo, 23 de outubro de 2011

Sanz Pena a Tilcara e Pumamarca

Muito cedo, como é do meu costume,  partí pela rodovia que liga Resistência a JuJuy, no noroeste da Argentina, estrada com retas intermináveis e muito perigosa pela quantidade de bodes que pastam soltos e em bandos nas laterais e costumam atravessar repentinamente de um lado para o outro, causando repetidos acidentes na região. No final da manhã já havia alcançado El Galpon, na Provincia de Salta, onde aproveitei para abastecer a moto e saborear as deliciosas empanadas saltenhas. Após esticar as pernas, toquei em direção a rodovia para Jujuy, uma das melhores da região. Jujuy é uma cidade bonita e na sua chegada vc tem um viaduto que separa os vários caminhos que nos levam para cidades históricas e turísticas como Humauaca, Pumamarca e Tilcara. Como estava no meio da tarde resolví rever Tilcara, cidade de ruas estreitas e com hoteis e restaurantes para todos os gostos e preços. Nas vielas, a maioria em rípio, desfilam turistas do mundo inteiro, na sua grande maioria, estudantes e mochileiros que disputam espaço com carros, Vans , ônibus e motos . Após um giro pelo centro da cidade onde predomina o comércio artezanal indígena, abastecí a moto e partí para Pumamarca, cidade localizada no sopé das Cordilheiras e na minha opinião, o ponto de partida para a travessia do famoso e temido deserto do Atacama. Apesar da grande quantidade de hoteis e pousadas existentes, tive uma grande dificuldade de conseguir um lugar para dormir. Depois de rodar muito e já considerando tocar em direção a Susques, conseguí localizar uma pousada muito simpática, composta de vários chalés, uma piscina e um restaurante estilo suiço com uma comida deliciosa e bons vinhos de Salta e Mendonza. Conseguí inclusive parar minha moto numa varanda coberta,  ao lado da porta de entrada do meu quarto, protegendo minha bagagem do sereno noturno. Nesta noite, além de curtir a famosa milaneza com papas fritas e ensalada, tive oportunidade de confraternizar com um grupo de motociclistas de Córdoba, que regressavam de São Pedro do Atacama, no Chile. Após um animado papo sobre viagens de moto, me recolhí para colocar meus emails em dia e programar a jornada do dia seguinte que seria muito dura por causa do vento violento que predomina no deserto na época do inverno, chegando as vezes até 80 Km por hora. Traçada minha estratégia de viagem, conseguí dormir profundamente.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sorocaba a Sanz Pena, Argentina

Pela manhã, ao retornar para a Castelo Branco, sentí que faria uma viagem tranquila em direção ao Sul. Toquei pela Castelo até Ourinhos e tomei a direção da divisa com o Paraná, onde comecei a sofrer no bolso as consequências de um pedágio caríssimo, que não corresponde de maneira alguma com a estrada em que vc trafega, raramente utilizando trechos de pistas duplas. O que compensa o alto valor de pedágio nesse trecho, é a beleza visual dos plantios de trigo , soja , milho e tantas outras plantações que fazem desse Estado, o maior celeiro do Brasil. Aproveitando o belo dia ensolarado, passei pelas progressistas e ricas cidades de Londrina , Maringá e Cascavel, entre outras , parando numa lanchonete localizada na rodovia para Foz , onde tradicionalmente saboreio uma deliciosa salada de frutas com sorvete . Dalí , rodei até Foz do Iguaçú, indo direto para o hotel Suiça, onde sempre me hospedo pelo tratamento diferenciado dispensado aos motociclistas estradeiros. Por coincidência, o proprietário desse hotel, o Alejandro, além de motociclista é o presidente do MC Aquilas de La Frontera, com séde em Puerto Iguazú, Argentina. No dia seguinte, além de apanhar minha carta verde (seguro contra terceiros), utilizado em toda a área do Mercosul, fui em companhia do Alejandro para a CBN (rádio e distribuidora de noticias), onde participei de uma longa entrevista sobre o projeto tres américas e sua importância para o motociclismo sul americano. À noite, após um animado jantar em companhia do Alejandro e do Marcelo, seu colaborador e amigo, fui dormir para partir em direção à fronteira com a Argentina. Pela manhã, após alguns reparos na bagagem e um lauto café colonial, partí para a divisa e após os rápidos trâmites alfandegários, comecei a atravessar a Provincia de Missiones, passando por Eldorado, cidade onde fui inclusive condecorado pelo Prefeito, durante um evento festivo da cidade, e a sempre linda Posadas. No final do dia, atravessei a movimentada cidade de Corrientes e tomei o rumo de Sanz Pena, onde parei para um merecido repouso e sacar algum dinheiro Argentino, num caixa eletrônico, pois nem todas as estações se serviços do país aceitam cartão de crédito.

inicio do projeto

Sou Augusto Lins e Silva, mais conhecido como Augusto BR, presidente do BR Moto Clube, motociclista verdadeiramente estradeiro, há 55 anos nas estradas deste vasto continente americano, frequentador assíduo de todos os eventos motociclísticos importantes, tanto nacionais como internacionais , o que me faz manter uma média anual de 80.000 Km rodados . Em 2010 , pensando em comemorar meus 55 anos de estrada e 70 anos de idade , resolví programar uma longa e solitária viagem de moto , partindo do Rio de Janeiro em direção ao Alasca , cortando todo o continente americano , ída e volta . Para minha absoluta surpresa , não contei com a ajuda de nenhuma entidade governamental , tanto na área Federal , Estadual ou Municipal , e muito menos na área  privada , incluindo-se as montadoras de motos nacionais e estrangeiras . Não contei sequer com a Amo-RJ , que descobrí ser a única associação de motociclismo do Brasil , que possui uma diretoria há dezessete anos , sem contar com um voto sequer dos milhares de motociclistas cariocas e fluminenses , mantendo-se na direção da entidade graças a oito ou dez conselheiros , nomeados por ela própria , com o único objetivo de reconduzi-la ao cargo, anualmente , graças a um estatuto exdrúxulo e viciado , inspirado na bionicidade da ditadura de 64, de péssima memória para todos nós brasileiros, o que nos transforma na única Amo brasileira sem representatividade politica e por consequência ,  sem nenhuma liderança no nosso meio e no  próprio Estado , tradicionalmente vanguardista no motociclismo nacional. Por essas razões , tive que adiar o projeto já intitulado de tres américas e reunir a familia , sempre muito unida e solidária , para avaliarmos a possibilidade de realizarmos tal feito sem ajuda externa , a não ser com a colaboração de alguns irmaõs motociclistas leais , solidários e verdadeiros , que acima de tudo , acreditaram no êxito dessa empreitada , sonho de um estradeiro veterano , que levaria o motociiclismo brasileiro à última fronteira americana , o  inóspito , selvagem e grandioso Alasca . Posso destacar entre outros e com muita honra , como meus grandes incentivadores , nossa já falecida Cristina , nosso companheiro de estrada Geraldo Correa , diretor do jornal motocycles , Paulo Roberto , do Globo e pai da banda Faixa Etária e finalmente Moisés e Mario , dirigentes dos Pregos do Asfalto , que foram verdadeiros baluartes nessa vitoriosa empreitada , até então , desacreditada por uma grande maioria . Decidida a realização da aventura que cruzaria as tres américas , enfrentando desertos  , baixas temperaturas , muita chuva e principalmente ventos violentos e neve , marcamos minha saída para o dia 14 de maio  de 2011 , do quartel da Policia Rodoviária Federal , localizada no marco zero da Via Dutra , durante um churrasco de despedida organizado pelo MC Pregos do Asfalto e jornal Motocycles , com a cobertura da mídia , incluindo-se à Associated Press , distribuidora de noticias para todo o mundo . Dalí , na presença de centenas de companheiros estradeiros e familiares ,  sob um clima de grande confraternização , partí em companhia de um comboio da Policia Rodoviária Federal e alguns companheiros, que me acompanharam até a estação de pedágio de Queimados, entre eles, Marquinhos de Nilópolis e sua mulher e nosso companheiro Cigano de Volta Redonda. Daí toquei diretamente pela Dutra até o inicio da Castelo Branco, onde fui homenageado por um grupo de motociclistas Paulistas que se confraternizaram comigo no Posto Graal, localizado após a estação de pedágio do Alphaville. Dalí seguí para um hotel localizado na entrada do viaduto para Sorocaba, onde curtí um merecido repouso.